Media Watch

Um olhar sobre o que se vai passando com os media

30 outubro 2006

Quebra na leitura de imprensa ‘tradicional’ por parte dos jovens

Um estudo divulgado pela Associação de Editores de Diários Espanhóis (AEDE) confirma a tendência dos jovens para abandonarem a leitura dos jornais tradicionais. De acordo com os dados recolhidos por esta entidade do país vizinho, são menos de 15% os jovens com idade entre os 14 e os 24 anos que afirmam ler habitualmente este tipo de imprensa, um valor que representa uma quebra de seis pontos percentuais face aos 21% de jovens desta faixa etária que afirmava ler imprensa em 1997.

12 Outubro 2006, Meios & Publicidade
Colocado por André Pereira

19 outubro 2006

Jornalismo "tablóide" e/ou sensacionalista nas Televisões

Não é fácil separar os dois conceitos. Diria que as estratégias tablóides começaram por ser, na imprensa, uma selecção dos casos “singulares” da actualidade, por vezes mesmo “monstruosos”, operando-se depois uma “compressão” desse tipo de matérias e factos, transformando-os em “histórias” para consumo rápido, fazendo apelo ao lado mais fútil dos públicos e às suas, quantas vezes, perversas curiosidades. Essas histórias passaram então a ter o epíteto de “sensacionalistas”.

Passados cem anos, e agora em matéria televisiva, alguma coisa mudou. As “monstruosidades” do final do Século XIX adquiriram estatuto “social”, isto é, os media procuram agora esses casos entre os comuns dos mortais.

Por exemplo: O Jornal Nacional (TVI) de 14 de Janeiro de 2002, transmitiu uma notícia sobre o esfaqueamento de uma mulher de 54 anos, em Fronteira, Portalegre, notícia acompanhada de imagens do presumível criminoso algemado - sem qualquer protecção que impossibilitasse a sua identificação - violando os limites à liberdade de informação, estabelecidos nos termos do art. 21º, n.º 1, da Lei n.º 31-A/98, de 14 de Julho.

Parêntesis. Uma curiosidade sobre este caso: 3 anos e meio depois, a Alta Autoridade para a Comunicação Social, a 10 de Agosto de 2005, deliberou condenar a TVI ao pagamento de uma coima no valor de 143.404€!

Outras práticas tablóides e sensacionalistas são frequentes nas nossas TV's:

A primeira das quais é de ordem geral. Tem a ver com a submissão da estratégia de informação à estratégia geral do próprio canal, sendo que esta, está já de si submetida a uma estratégia comercial. Veja-se, por exemplo, o documentário de Mariana Otero sobre a SIC e isso está lá, assumido pelo director de informação do canal, e reforçado pelo director comercial em matéria de programação em geral.

Quando passamos aos conteúdos propriamente ditos sucede aquilo que Óscar Mascarenhas interpretava desta forma:

"Colocando-se numa posição sobranceira em relação ao destinatário, o jornalista sensacionalista oferece não aquilo em que acredita mas aquilo que acha que o pagode quer receber. O jornalismo sensacionalista parte de uma concepção de desprezo pelo público (…) Enredando o público na teia do fútil e do inútil elevados à categoria de essência do processo social (…)".

Temos ainda que considerar outro género de “tabloidismo” mais frequente e de maior gravidade (pela sua menor evidência):

Nesta matéria, as televisões portuguesas guiam-se praticamente todas pela mesma bitola. Aliás, sabe-se porquê: não houve ainda uma descolagem dos vícios do velho monopólio de Estado (RTP) e dos seus sucedâneos da era da concorrência, sendo que os jovens jornalistas que entraram para a profissão acabaram por copiar o pior do velho modelo de produção de informação.

Exemplos recentes: (o pior do tratamento dos casos):

- Casa Pia
- Fogos de Verão
- Campanha presidencial a “toque de sound-byte” (espécie de estratégia de reality-show)
- Constantes aberturas com Acidentes, Catástrofes, Actualidade trágica e faits-divers em geral – estratégia tablóide de submissão à produção de audiências e fidelização de públicos, esgrimindo o pior do jornalismo.

Exemplo recente sobre este último aspecto:

O Jornal da Tarde de 17 de Janeiro, no melhor tom sensacionalista, editou na abertura o tema do homicida barricado no Sobral de Monte Agraço. Meia hora depois, às 13:32 (!), deu duas notícias de grande relevância para o País:

1. Uma sobre um projecto da Microsoft – “Tecnologia e Inovação”, que pretende ajudar a combater o desemprego através da formação. Nos termos do programa vão recebe formação de competências básicas em TIC 3 mil funcionários do sector têxtil do Vale do Ave, que se encontram desempregados;

2. Outra, sobre o investimento da IKEA numa fábrica de Ponte de Lima, que gerará centenas de empregos na região.

Outros exemplos:

- Demolição de barracas no bairro do Fim do Mundo em Cascais, com o jornalista do Jornal da Tarde da RTP1, a perguntar-se a si próprio: "Como é possível existir um bairro destes em Cascais", esquecendo-se que deveria ter feito essa pergunta à CMC, procurando questionar a negligência ou a corrupção na Câmara, aquando da construção clandestina do bairro.

- O tempo concedido, dias a fio, pelo mesmo Jornal da Tarde, aos chamados "reforços de Inverno" do futebol português, com “novelas” inteiras dentro dos telejornais: jogadores que chegam ao Aeroporto, que depois vestem a camisola do novo clube, que depois se sentam com os dirigentes na sala de imprensa para conferências de imprensa em directo, aguardando que as câmaras entrem no ar…

- Ainda mais recentemente, há dias, no Telejornal do serviço público, é enviada uma equipa de reportagem para seguir uma operação no Hospital de Coimbra a um guarda da GNR que foi baleado em Estarreja, como se essa fosse uma operação inédita em Portugal…

Depois haveria ainda que falar de outras práticas nefastas, como os mimetismos, a organização burocrática da informação, os telejornais “enchouriçados” de 1 e 2 horas de duração, o jornalismo sentado, as contaminações discursivas entre diferentes géneros, os compromissos com os porta-vozes e os chefes de gabinete, a submissão a um sistema político-partidário em crise de representação e de credibilidade, (vide a grave discriminação feita por televisões e candidatos nas últimas eleições presidenciais sobre a questão dos debates televisivos) etc., etc., tudo isto resultando numa incompreensão do papel e da responsabilidade social dos media e da sua fundamental contribuição para a Cidadania.

Enfim, este é um pequeno quadro-síntese das misérias daquilo a que se vai chamando jornalismo, mas que muitos de nós, cidadãos deste país, já perceberam há muito que não é.

Autoria: Prof. Doutor Francisco Rui Cádima
Recolha: José Murta 1º Ano C. Social
Colocado por: André Pereira

12 outubro 2006

Governo chinês contra amantes e divórcios na televisão

Segundo o jornal “China Daily”, o órgão governamental chinês que regula os conteúdos nos meios de comunicação audiovisuais prepara novas normas para limitar o número de amantes, divórcios e outros problemas conjugais que aparecem nas séries de ficção na televisão.

A Administração Estatal de Rádio, Cinema e Televisão estabelecerá maiores restrições às séries, de acordo com o jornal.

"Não podemos sempre ressaltar os problemas extraconjugais. Estas séries não estão alinhadas com a moral social", disse Ma Yong, director de uma produtora e um dos que apoiam esta iniciativa.

As séries de produção nacional, responsáveis por grande parte da programação em todas as redes de televisão chinesas, sofrem diversas limitações devido ao forte controlo do governo sobre os meios de comunicação e também ao puritanismo na sociedade da China.

Recentemente, foram estabelecidos limites para as cenas de violência. Outro alvo foram as cenas cómicas em séries históricas que, segundo o governo, eram uma ofensa à história nacional.

Cenas sexuais ou beijos nunca aparecem nas séries chinesas, somente em filmes para o cinema.
O "China Daily" reconhece que nem todos estão de acordo com o aumento das restrições. Alguns analistas opinam que "o mercado, e não o governo, deve decidir o que é apropriado".

André Pereira

03 outubro 2006

O Livro de Métodos dos Media

A SIC Notícias passou imagens de torturas em Guantanamo, à hora de almoço do Dia de Páscoa e sem «bolinha» no écran. A Entidade Reguladora para a Comunicação Social recebeu uma queixa, analisou e agora arquiva o processo.

Segundo a ERCS, o programa em análise, «Tortura – o Livro de Métodos de Guantanamo», “não influi de modo negativo na formação da personalidade das crianças, adolescentes ou de outros públicos.

Se este contém cenas violentas, promove, afinal, um debate sério e consistente sobre a tortura e os tratamentos cruéis, desumanos e degradantes. Não faz a apologia da violência, procura contextualizar e recriar com seriedade a “realidade”, intercalando a exibição de cenas violentas com a apresentação serena de elementos de facto e documentais.

Nessa medida, representa – de facto – uma apologia contra a violência cometida sobre outrem.”

Desta forma, a ERCS considera não ter havido públicos afectados negativamente com a emissão do programa, arquivando, assim, o processo.

Este caso remete-nos à “velha questão” da liberdade de escolha (?) dos conteúdos televisivos. Vivemos num mundo cada vez mais agitado onde a (des)informação nos invade e nos controla os movimentos como uma criança maneja as marionetas.

André Pereira
Fonte: Jornal Sol